Os desafios e oportunidades para uma produção rentável de ovinos nunca tiveram um melhor momento do que o atual. É fundamental que os ovinocultores não apenas ‘zelem’ pelo patrimônio genético adquirido ao longo dos anos de produção como também busquem melhorar o rebanho por meio da compra de animais geneticamente superiores. Desta forma, o melhoramento genético é uma estratégia a longo prazo com principal objetivo focado no aumento da rentabilidade. A negligência dessa ferramenta tão imprescindível é refletida diretamente nos índices zootécnicos do rebanho.
Os benefícios de um programa de melhoramento genético são claramente entendidos pelos ovinocultores neozelandeses. A estimativa a seguir foi apresentada pela Sheep Improvement Limited (SIL Ltd) e baseou-se nos resultados alcançados por 50 diferentes propriedades de ovinos consideradas na Nova Zelândia exemplos em eficiência de produção e representa a média de desempenho final de um total de 50 mil animais. A partir de um valor esperado de 2% de melhoramento genético por ano para as características como número de cordeiros nascidos, ganho de peso e peso do velo, calculou-se o ganho genético anual por propriedade expresso em valores econômicos (NZ$):
Para um rebanho comum de 2000 matrizes com 110% de taxa de desmame, produzindo ao todo 2200 cordeiros dos quais 1500 são abatidos no frigorífico resultando em 15,5 kg de carcaça por animal ao preço de $7,23/kg de carcaça e, adicionalmente, 5kg de lã/ovelha a $5,34/kg, obtém-se:
a) Peso da carcaça: 2% x 15,5kg = 0,3 kg de carcaça x $7,23 = $2,17 x 1500 cordeiros = $3255
b) Número de cordeiros nascidos: 2% x 2000 = 40 cordeiros x 15,5kg x $7,23 = $4483
c) Peso do velo: 2% x 5kg = 0,1 kg de lã/ovelha x 2000 = 200 kg x $5,34 = $1068
Total = NZ$8.806,00
É visível que o melhoramente genético proporciona um alto retorno financeiro mas para que se possa usufruir desta ferramenta é preciso ação imediata e dedicação contínua.
A seleção cuidadosa de reprodutores é um investimento vital para o melhoramento genético. Um reprodutor é, essencialmente, um pacote de material genético embrulhado de lã. O exterior do animal oferece algumas informações tais como conformação, tipo de lã e aspectos raciais. No entanto, há muitas características, como por exemplo desempenho à desmama e resistência a doenças, que não podem ser visualmente apontadas. O que realmente interessa é como o reprodutor pode contribuir para com a produção e desempenho econômico do rebanho no qual é inserido, afinal uma ferrari com motor 1.0 pode ainda parecer atraente aos olhos mas longe de cumprir com as expectativas do motorista.
A indústria de laticínios na Nova Zelândia tem feito o ‘dever de casa’ e, dessa forma, desempenhado um papel importante para o país em termos de melhoramento genético. É também fonte de inspiração para a indústria ovina no país, já que, por meio de modernas tecnologias de reprodução aliadas à excelente capacitação do suporte técnico, elevou-se o potencial genético médio por vaca de produção de gordura do leite de cerca de 115 kg para 180 kg nos últimos 40 anos. Isto equivale a 1,6 kg por vaca/ano nacionalmente.
Este é um exemplo espetacular de performance demonstrado pela indústria de laticínios a qual tem sido capaz de focar a seleção em características específicas dentro do processo de produção. O valor econômico da ovelha na Nova Zelândia, por sua vez, é refletido nas múltiplas características para produção de carne e de lã e um avanço comparável ao conseguido pela bovinocultura de leite significaria uma taxa de desmame passando de 95% para 160%. No entanto, os valores atuais demonstram um aumento de 95% para 120% no mesmo período.
Melhoramento genético, então, significa estabelecer mudanças de caráter genético positivas no rebanho a favor das características que são importantes economicamente para os objetivos da produção de forma a tornar cada geração sucessiva potencialmente superior aos pais. Apesar de o ganho genético ser paulatino, é possível que haja mudanças rápidas no perfil genético do rebanho por meio da introdução de novos genes pertencentes a outras raças (cruzamento).
Todo ciclo de produção animal se inicia na estação de monta e, por este motivo, a seleção dos animais na pré-monta torna-se crucial para o sucesso do negócio. O progresso genético pode ser alcançado tanto pela seleção de borregas para reposição de matrizes quanto no momento do descarte de animais improdutivos.
No entanto, 80% do progresso genético é atribuído na escolha do reprodutor justamente pelo fato de ele ser submetido a maior pressão de seleção e por deixar mais filhos em uma mesma monta do que a matriz em toda a sua vida reprodutiva.
Assim, qualquer ganho genético adquirido no rebanho anualmente com a adição de um reprodutor “melhorador” será permanente e acumulativo ao longo dos anos.
Matematicamente, o desempenho produtivo é expresso por meio da seguinte equação: F = G + A, ou seja, a performance do animal (fenótipo, F) é igual a expressão dos genes que compõem o DNA dele (genótipo, G) mais a influência do ambiente e/ou do manejo a que ele é submetido (ambiente, A).
As contribuições relativas de manejo e genética são ilustradas nos gráficos 1 e 2. O melhoramento genético acumulativo proporciona um ganho de 15 unidades percentuais ao longo de 10 anos para a característica taxa de desmame enquanto que manejo e ferramentas tecnológicas por sua vez proporcionam um aumento de 10 unidades percentuais no mesmo período. Exemplos de práticas de manejo que poderiam ter sido adotadas durante os anos 2, 4, 6 e 8 incluem a adição de fertilizantes e melhoramento produtivo da pastagem, mais subdivisões de piquetes para melhor planejamento nutricional, melhores práticas de controle de parasitas internos e o uso estratégico da consorciação com leguminosas. Da mesma forma, é possível que ambos manejo e genética combinados possam adicionar até 25 unidades percentuais na taxa de desmame durante o mesmo período.
O melhoramento genético é permanente e acumulativo enquanto que práticas de manejo têm efeitos a curto prazo e são mais susceptíveis a mudanças.
Fica claro que a combinação vencedora é a utilização de genética de ponta assim como manejo exemplar e altamente produtivo. Contudo, ainda que as práticas de manejo sejam as melhores possíveis, a máxima produtividade e rentabilidade não serão alcançadas a menos que o rebanho possua potencial genético para atingir os resultados esperados.
Há necessidade imediata de se seguir exemplos de sucesso e ‘pular’ fases de ‘tentativa-erro’. A utilização da tecnologia e do conhecimento adquirido por países como a Nova Zelândia ao longo de 40 anos de seleção e melhoramento produtivo é a alavanca de que tanto o setor no Brasil precisa e ao ovinocultor cabe o primeiro-passo: decidir.
Nota: Os dados estatísticos, econômicos e as estimativas foram obtidos e adaptados pela autora baseados nos ciclos de palestras da Beef+Lamb New Zealand em parceria com a Sheep Improvement Limited e nos jornais agropecuários do país. NZ$ 1,00 = R$ 1,44 na data da publicação.
Equipe CordeiroBIZ